Mesmo com a famosa e reconhecida biodiversidade brasileira, 80% das árvores plantadas na cidade de São Paulo são formadas por árvores europeias e asiáticas. Dá para acreditar? Isso aconteceu por um motivo cultural, por causa daquela conversa boba de que tudo quanto é estrangeiro é melhor. E esse papo era ainda mais forte no século 19, quando os governantes acreditavam que era chique fazer o Brasil parecer a Europa.
Atualmente, as pessoas estão mais conscientes, por isso, o cambuci, uma espécie nativa da Mata Atlântica paulistana que produz frutos saborosos, está começando a ganhar destaque novamente (leia matéria Resgate no Cambuci), mas está longe de ser facilmente encontrada na cidade. Ainda é mais vista nas zonas Sul e Leste da capital. “Há cem anos, encontraríamos muitos cambucis, até na avenida Paulista. Hoje, a situação é diferente e a prefeitura não recomenda o plantio de árvores frutíferas porque atrai pessoas, insetos e faz sujeira”, conta o Ricardo Cardim, da Associação Amigos das Árvores de São Paulo. “Não concordo. Acho que são males pequenos frente aos benefícios que elas trazem para as pessoas”, completa.
O botânico acredita que as árvores frutíferas são as melhores para conectar as pessoas com o verde porque são mais valorizadas e tornam mais clara a relação entre natureza e qualidade de vida. As frutas atraem bichinhos, como pássaros, para comê-las e acabam aumentando a presença de aves no local, equilibrando o ciclo natural.
O QUE ELAS TRAZEM DE BOM Onde tem árvore o bem-estar é maior. São nos locais mais arborizados que as pessoas sentem a temperatura mais amena, o tempo mais fresquinho, aproveitam a maior quantidade de sombras e maior umidade do ar. São nesses lugares, também, que o risco de enchentes é menor.
Funciona assim: 70% da água da chuva ficam “presos” na copa das árvores e, depois, essa água é conduzida pelo tronco para o solo e até o lenço l freático. Se, em vez de árvores só existem postes e cimento, a água escorre pela rua e inunda tudo, sem ser absorvida. “Se a cidade fosse muito bem arborizada como Paris e Madri, formando corredores verdes, não teríamos esse tipo de problema”, diz Ricardo.
Mas o especialista conta que a história da urbanização de São Paulo contribuiu para esse quadro, já que muitas construções invadiram as várzeas. Ele explica que o rio Tietê - que enche e transborda com mais freqüência do que deveria - tinha pântano e brejo em suas margens, portanto, as inundações ficavam restritas a elas. Como os homens construíram em volta da várzea e colocaram o rio em um canal, quando a água da cidade escoa para o Tietê, ele enche e transborda.
As matas ciliares protegem os rios como os cílios protegem os olhos. Essas matas evitam que caia terra dentro do rio. Afinal, à medida em que a terra cai, o rio perde profundidade, então, cabe cada vez menos água e ele transborda. Além disso, a mata ciliar filtra a água que desce em direção ao rio, a torna mais pura e alimenta os peixes que moram ali.
Outra contribuição muito importante se refere à umidade do ar - ou à falta dela, no caso de SP. Enquanto a árvore faz fotossíntese, ela libera umidade, além de filtrar gases tóxicos como o monóxido de carbono e amenizar as ilhas de calor, que é acontece quando se forma uma zona desértica por causa da quantidade de pedras e de concreto que acumulam o calor do sol. “Quando tem área de floresta, o calor do sol é absorvido pelas copas e a sensação é melhor. Um estudo da Unesp mostrou que a diferença entre um bairro arborizado e o centro, que tem poucas árvores, é grande. O centro pode estar 12ºC mais quente”, afirma Ricardo.
MÃOS À OBRA De toda essa conversa, o mais importante é aprender que as árvores são muito importantes para sua saúde, seu bem-estar e sua cidade, não apenas um símbolo de florestas que ficam lá longe. Plantar árvores é sempre bom, mas o melhor a fazer é cuidar das árvores que já existem. “Precisamos vencer aquele preconceito de que árvore solta folha, quebra calçada, prejudica a cidade. É uma ideia antiga das pessoas mais velhas que precisa desaparecer. A árvore é amiga da cidade”, diz o botânico.
Mas se você está superempolgado em plantar árvores para comemorar o dia delas, ótimo. Só é preciso saber o que plantar para não colocar espécies invasoras à solta. Essas plantas (e animais também) são competitivas a ponto de não deixarem as nativas crescerem. Elas dominam o ambiente e eliminam alguns exemplares de forma que a floresta fique cada vez mais pobre, com menor biodiversidade.
“É muito mais legal plantar do que comprar uma espécie: começar num copinho, passar para um vasinho, colocar numa praça e ver, 20 anos depois, que ela cresceu como você”. Animou? Veja abaixo algumas das sugestões da Associação dos Amigos das Árvores de São Paulo.
1.Pequeno porte – até 5 metros de altura- araça (Psidium sp.) – frutos, atrai fauna, ornamental;
- pitangueira (Eugenia uniflora) – frutos, atrai fauna, ornamental e
- cambuci (Campomanesia phaea ) - frutos saborosos, árvore símbolo de São Paulo.
2. Médio porte – até 10 metros de altura- pata-de-vaca (Bauhinia forticata) – floração branca, ornamental;
- aroeira-pimenteira (Schinus terebinthifolius) – atrai avifauna e
- jabuticabeira (Eugenia cauliflora) – atrai avifauna.
3. Grande porte – mais que 10 metros de altura- pau-marfim (Balfourodendron riedelianum) – ornamental;
- jacarandá-paulista (Machaerium villosum) – ornamental e
- ipê-amarelo (Tabebuia ochraceae) – flor, ornamental.